Infecção no paciente com lúpus eritematoso sistêmico
Introdução
O lúpus eritematoso sistêmico (LES) é uma doença inflamatória crônica autoimune que pode acometer diversos órgãos e sistemas. Tem incidência variável, com 3,8 casos/100.000 habitantes na Inglaterra(1) e 7,8/100.000 habitantes no Brasil(2).
Em 1976, Urowitz et al. descreveram um padrão bimodal de mortalidade no LES, com mortalidade prematura por atividade da doença ou infecção, e mortalidade tardia por complicações de doença aterosclerótica(3). Com a melhora do tratamento e diminuição da mortalidade nas últimas décadas, a doença vascular aterosclerótica tem sido apontada como importante causa de morbimortalidade em pacientes com LES(4). Entretanto, as doenças infecciosas ainda fazem parte do cotidiano do reumatologista, podendo exercer papel tanto como gatilho para o início de doença reumática autoimune, como desencadear atividade ou mesmo mimetizar a doença, com impacto na morbimortalidade dos pacientes. Em países desenvolvidos, a doença vascular aterosclerótica é uma importante causa de mortalidade(5-8), sendo responsável por até 30% das causas de óbito(7). No Brasil, em estudo utilizando atestados de óbito e análise de múltiplas causas de morte, insuficiência renal e infecções foram as causas mais frequentes de óbito(9). Em outro estudo brasileiro, que avaliou 58 óbitos em 509 pacientes com LES internados e/ou ambulatoriais, 43,1% foram por sepse e apenas 6,9% por acidente vascular encefálico(10). Além disso, as infecções são responsáveis por 14% a 50% das internações hospitalares e por 12% a 60% dos óbitos nos pacientes com LES(11-13).
Em estudo prospectivo com avaliação de 488 pacientes internados no Hospital São Paulo da Universidade Federal de São Paulo/Unifesp, entre os anos de 2012 e 2013, o LES foi a doença reumática com maior número de internações, sendo o principal motivo para tal, a atividade de doença (56,6%), seguido de atividade de doença associada a infecção (18,9%) e infecção isolada (6,9%). Quando no mesmo período foram avaliados 168 pacientes atendidos pelo médico reumatologista no serviço do pronto-socorro dessa instituição, o LES foi novamente a doença reumática com maior número de avaliações, sendo o principal motivo para tal a atividade de doença (64,9%), seguido de atividade de doença associada a infecção (21,3%) e infecção isolada (6,4%). Esses dados corroboram a importância do reconhecimento das doenças infecciosas como importantes fatores na morbimortalidade dos pacientes com LES.
Correspondência: Dr. Edgard Torres dos Reis Neto, e-mail: [email protected].
Cite este artigo como: Reis Neto ET. Infecção no paciente com lúpus eritematoso sistêmico. Rev Paul Reumatol. 2015;14(3):40-7. DOI: https://doi.org/10.46833/reumatologiasp.2015.14.3.40-47.
Apoio financeiro: não contou com financiamento.
Conflito de interesses: nenhuma situação.
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